Sabe, depois da publicação do ultimo post, e depois de tanto tempo e sem tempo para sentar e escrever para o Blog, o artigo veio em função de situações que eu mesma, prometi a mim que não faria. No inicio da publicação do blog, pensei em escrever somente em função da divulgação da cultura. Materiais inéditos, informações preciosas, ritos de acampamento, enfim para que os Ciganos de Alma, pudessem ter mais uma fonte para trilhar suas estradas mediúnicas.
Pero, o mundo se repete, o meu avô Pedro Torres, o primeiro cigano da nathsya Torres, a nascer no Brasil (1913), em Pernambuco, como muitos nordestinos ao tentar buscar um destino mais prospero, veio para o Rio de Janeiro em 1930, já com sua profissão de moveleiro, foi inovador na sua época, pois serviu ao Exercito Brasileiro, e de seus contatos (que abrangiam clientes de moveis e de oraculador das nuvens do céu) conseguiu um cargo de servidor civil (como moveleiro/artesão) na Marinha do Brasil – no primeiro Distrito Naval/ Praça Mauá, onde ficou até falecer em 1955. Onde mostrou seus talentos, fazendo muitos moveis, para a Marinha e para militares encantados com tudo o que ele podia fazer em madeira. Ele foi polemico, morenao, bonitão, cabelos negros, sempre mais compridos do que o permitido pela Marinha, blusões sempre coloridos, enfim um cara atípico, mais muito querido. Nestes dias em que viveu o velho cigano, não havia pode-se dizer “uma mídia escrita”, mas ele foi um grande divulgador da raça, nos seus churrascos, nas suas padjangas, nos saraus, nos balanços da roseira.... Ele revelava muito de nós. Morou em casa, mas teve barraca nos campos do Gericinó, ate morrer. Enfim um cigano que muitos o juravam Krisnitory, sem nada acontecer de fato, ate porque a espiritualidade sempre esteve o impulsionando para fazer o que havia para ser feito.
Agora meio século depois, estou cá, como diz a minha ancestralidade. Como dizem em Évora, estou “Farfando”, incomodando, mais tenho também alguém para me ouvir. Eu prometi não usar deste meio para dizer episódios particulares, e sim somente sobre nossa cultura, ate porque sou do acampamento, diferente de quem se diz, mas não é capaz de ser coerente. Mas ai pensando como meu avô, digo falarei por fim deste meio sim, porque terá sempre quem leia. E também porque o que estou passando nós ciganos conhecemos muito bem. Falar a nosso respeito, é coisa comum nesta estrada.
São informações importantes também para quem é Cigano de Alma, as perseguições (e este ano foram muitas) feitas ate por quem não carrega este sangue, realmente não importa, o único fator importante é o que tem que ser feito. Porque do outro lado existe muita gente séria (graças a Deus, a maioria), que me ligou após a publicação (Ingratidão Mediúnica), para dizer o quanto preza nossa raça, e o que posso levar através do que escrevo, o quão valioso é dizer isso. Ouvi isso durante a semana, de pessoas muito próximas, que me conhecem muito bem. Mas hoje durante plena crise renal (e usando programa de voz, pois não agüento sentar), e sob protestos do marido (de que trabalho demais), toca o meu telefone, com um carinho de uma pessoa que pouco trocou comigo.
Mais a troca foi tão profunda, as palavras caíram tão sorridentes, em cima de um rosto que tanto chorou, que me deu vontade de escrever. Foi um incentivo, uma renovação, foi na verdade um recado de Ramiro, Artemio e Manolo, dizendo para não desistir. Um amigo, que não sabe o que causou a generosidade do seu gesto. Cláudio, agradeço viu meu filho!
Por causa disso, é que digo continuarei, sim, fortalecida. Os escritores são pessoas diferentes, não são bons com palavras “ao vivo”, e por isso preferem escrever.
Sim, o mundo se repete. Da mesma forma que o vô Pedro, enfrentou o farfar na sua existência, 50 anos depois estou ca. Desta vez o farfar, não me levará aos Distritos Policiais, como na época dele, mas me levará poder dizer, que a estrada é longa, trabalhosa, e o muito que se tem a ser dito, se depender hoje, não da minha pena, mas da autorização de quem compete e da minha vontade sairá, mesmo debilitada, já me sinto quase boa, direi, afinal como diz ‘Seo’ Ramiro; “O que for ensinamento e ficar guardado, não terá serventia para nada”. Graças aos Espíritos Ciganos, posso dizer que MAGIA, NÃO É PARA FRACOS, mas que sou tão afortunada, que tenho uma trupe comigo, que é muito mais do que ouro, é o que me faz forte nestas horas.
Sim, chega ate mim, tanto carinho, que meu vô Pedro, ia amar essa gente que fica ao lado mesmo levando pedradas junto.
Elis Peralta, Marcus Vinicius, Soninha, Irene, Reginho, Oswaldo, Lupi, Gabriel, Pedro, Marcio, Sara, Telma, Kika, Mônica, Fernanda, Roberto e Cláudio, a todos vocês meus amigos, agradeço, agradeço a todos os outros também, que não puderam me falar, mas se identificaram, e posso dizer nesta hora que o mundo se repete sim, e ainda bem que repete gente maravilhosa como vocês, que me fazem ter força para andar nesta estrada.
Agradeço!!!!!!!!
Ramona Torres
Kallin Evoriana – Manuche Bruxal que tem bons AMIGOS, para continuar a jornada.