segunda-feira, 28 de junho de 2010

Minha participação no quadro do Dicró no Fantastico!



Foi muito divertido, a gravação foi bem mais longa do que apareceu, mas foi tudo num clima de bom humor e todos foram muito respeitosos e delicados, eu adorei! E no ar apesar de poucos minutos, achei tudo muito bem cuidado. Agradeço a todos, em nome de todos os Ciganos, em especial os Kalons, o respeito com a nossa Magia, de coração!
Meus Agradecimentos a esta competente e carinhosa equipe:
Felipe Wainer,
Marcela Amodio
Dario Menezes
Flavio Lordello

O divertido e respeitoso, Dicró

E também minha querida amiga, Danielle Viana

domingo, 13 de junho de 2010

Portugal em mim!

Castelo dos Mouros
       Ontem fui a Sintra. Primeiramente subi as longas estradas de serra que da acesso ao, dos mais belos lugares que a presença dos ciganos já pode ver, pode pisar com toda a intrepitude dos apaixonados. Senti como uma terra minha, que esta em mim, foi preciso sim, peregrinar por todos os recantos tradicionais onde passaram os meus ancestrais.
        Estive no meu Portugal, cheio de histórias de feitiçaria, como a ver com graça um mármore raiado daqueles que somente em Sintra se pode ver.
       Ao chegar, na noite alta, um cálice de conhacque, como tomamos nos acampamentos para fugir do frio lusitano. Depois um copo alto de água fresca. Fui a Sintra despertar olhares, longos e pertubados com a minha presença. Tao alta, a cigana de botas, toda vestida de encarnado, visto quando foi tirado o sobretudo. As pulseiras fazendo barulho...... coisa de ciganos.........
       Ainda na noite fria observei, que minha alma passava como eu fazia em criança, andando com as saias esvoaçantes pelos centiares, onde eu mesma fui pela manha, revi os paredões de pedra, onde eu acreditava morar Arangelou-dã. Coisas de menina, impressionada, com a mula sem cabeça, o lobisomem, o saci que roubava as tsaras....... custei a entender que era o dinheiro gasto sem permissão dos maridos.....
        Parecia que estavam la, Cruges – o Maestro, Carlos, Alencar, e que a fumaça do pafeito subia entre as combinações que dariam rumo  a toda kumpania. Um tela sublime.
       Pela manha, fui até a querida Quinta da Regaleira, onde nos meus sonhos “avrasileirados”, acreditava que Carvalho Monteiro havia feito o poço iniciatico, a pedido dos reis, para la, jogarem os ciganos................. Depois de muito tempo, quando eu já nao era uma djulli, vi o que representavam os símbolos mitológicos, esotéricos, os deuses, jardins e grutas, um mundo a ser descoberto.............Fantastico!
        No Palácio da Pena, logo vi (descobri) porque os Evorianos apaixonados de pouco, mudavam para Sintra, tantos Jardins, Lagos, Fontes e Mansões, que traziam a inspiração para nossas danças, magias e nossa clientela de mulheres que sofriam do mesmo mal de amor, que nos afligia! Ha Pena! Pena do nome do Palácio, pena das pessoas que no frio portugues não tem com quem se aquecer!
       E vi tambem porque nos idos de Dom Fernando de Saxe-Coburgo, tinha tanta paixao que saltava dos olhos negros das ciganas, que tanto magiavam, quanto amavam.
        Lembrei das queixadas de leite, tão amadas pelos sintrenses e por toda a terra dos descobridores das Indias, donos de uma gastronomia que enlouquece hoje qualquer cardiologista, lembrei dos seus porques.  Onde as moças aprendiam com as romies a colocar um ingrediente totalmente humano, feminino e secreto, mas que enfeitiçava o homem amado e que era servida só pra ele, na boca!
        A subida pelas ladeiras, o ar puro, as quintas tão visitadas das Consuelos e Judiths, no caminho do Castelão dos Mouros, que faziam e fazem a alegria masculina de Sintra e garante o ar amoroso, que sustenta o funcionamento das Ofisas.
         No Castelo dos Mouros com suas diversas muralhas e fortes, onde pisei, tambem vestida de vermelho, em outra época, marca a presença arabe que tanto se ve na Europa, na Árzua espanhola dos ciganos, na Praça do Giraldo, na Balada das Bicicletas em Leiria, enfim em tudo e principalmente nos olhos quentes e apaixonados das ciganas.
       É ontem quando desci aos centiares, vestida de vermelho, com minhas saias, com meus cabelos negros aos ventos, vi que sou cigana, que tenho sangue quente, que sou feiticeira. Percebi no olho da pessoa, encanto, paixão e um certo temor de se perder naqueles cabelos.......... Não pude evitar, afinal Sintra é feita para os amantes! E que debaixo do céu lusitano, tem que haver suspiros de paixão, de amor, de saudade, pois só este ingrediente é que move o mundo!


Escrito regado a vinho da Quinta dos Amores, em Paredes/PT, nas conversas com Titi Rosário.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Hierarquia e Estrutura Espiritual da Tsara Gitana

Para começar a falar disso de como funciona a hierarquia e estrutura da família, da existência carnal e espiritual dos ciganos tenho que começar falando da mulher cigana. Para nós que vivemos dentro de uma cultura intrinsecamente machista, temos um papel muito forte, afinal os dons mediúnicos da mulher são sempre considerados, apesar de aparentemente sermos mais frágeis, mais sendo presença indispensável tantos nos cultos quanto nas casas e barracas. Afinal qual é o homem, baro, dirigente, filho, irmão, marido, sobrinho, melichs, ratói ou qualquer homem que saia para tomar uma decisão forte e que altere as vidas dos ciganos sem consultar as formas mediunicas, trabalhadas pelas mulheres do cla.

Na vida espiritual é a mesma coisa. A estrutura dos acampamentos e da vida dos ciganos também é considerada como estrutura espiritual, ate mesmo porque os espíritos ciganos já foram pessoas encarnadas um dia, então a estrutura espiritual vem do mesmo jeito. Através de confirmações hierárquicas, e os cargos são: Melichs, Kalinata / Ratói, Manouche / Puri Day / Shuvani, Barô / Bába. Seguindo as classificações ergomínicas que os rons utilizam para nomear os grupos, também utilizamos nomes em romani para poder definir missões espirituais. O primeiro cargo pode ser realizado em qualquer idade e por ambos os sexos, mesmo que a pessoa tenha sido iniciada no Khértia Drom ou nao e esteja nos últimos cargos a serem realizados.

Geralmente nós ciganos somos iniciados aos sete anos quando após saber a que elemento pertencemos e se temos missão mediúnica. Mesmo tão cedo nós ciganinhos já presentes ao trabalho espiritual, realizamos o trabalho de auxiliar e trazer os recados dos espíritos quando estes estão incorporados, traduzindo o que eles falam, servindo os chas, vinhos, cigarros, pafeitos, é o trabalho mais sublime, sem o qual não se faz culto. O melich (que em romanes quer dizer ajudante ou auxiliar), serve tanto para a ciganinha quanto para o ciganinho, eles são responsáveis pelo cuidado das ofisas, mesas, tchaios e aparatos mediúnicos em geral. O segundo cargo deve ser dado após o fim do Khértia Drom e pode se estender durante ate 30 anos do servir, embora muitos aos 20 anos já se mobilizem e trabalhem dentro dos cargos superiores, mas sem voto dentro dos acampamentos, sempre só utilizando a dar conselhos.

Ambos podem ministrar o Khértia Drom. Dependendo da pessoa e do trabalho que ela exerça tanto espiritual quanto de ramasordé, é o cargo que a maioria dos ciganos ficam a vida inteira e quando mudam de função acabam não largando as tarefas, visto que estão tão acostumados que já fazem naturalmente. A Kalinata (mulher) ou Ratói (homem), tem aqui as mesmas funções que é cuidar para que tudo aconteça dentro do trabalho espiritual ou de kumpania. Verificam a segurança do acampamento, ou tsara espiritual, cuidam dos que guardam (espíritos), de todos os aparatos, dão ordens aos Melichs, são os olhos e ouvidos dos Barôs e Bábas.

São os mais cobrados tanto espiritualmente quanto nos seus acampamentos de origem. Um Barô ou Bába, se verem algo errado chamarão um deles e os encarrega de resolver o problema, as Vourdakies devem ser realizadas por Kalinatas e Ratóis, que devem conhecer seus fundamentos profundamente. Dificilmente durante o exercer deste cargo se opõem ou desobedecem as ordens dadas. A Kalinata (que em romanes quer dizer “Operaria”), é uma mulher que quando exerce seus conhecimentos com padrão de comportamento impecável, são pessoas muito consideradas, e tem autoridade para chegar ate o Barô sem marcar, independente de ela ser mãe ou não, que é uma coisa que da autoridade a mulher.

Embora ainda sem voto, são ouvidas porque estão dentro da kumpania ouvindo a todos. O Ratói (que em romanes que dizer “Sabedor”), é o homem que decide junto da kalinata tendo as mesmas atribuições. Astralmente e fisicamente é o homem que coloca verdadeiramente as mãos para resolver o que deve ser feito. Dentro das Tsaras fisicamente, dentro do mundo encarnado que temos, dentro do mundo espiritual também. Independente dele ter constituído matrimonio ou não.

As fogueiras, são tarefas exclusivas dos Ratóis, tanto a arrumação, quanto acendimento e definição do que fazer com as cinzas que geralmente são entregues as Kalinatas. Após 20 anos ativos e com autorização pedida e dada, ou 30 anos ativos sem pedidos de autorização, tanto a Kalinata quanto o Ratói, podem passar pelos ritos de Roti Diena e serem chancelados por um Barô ou Bába, para ter outras atribuições. A mulher Kalinata, terá um grau nesta estrutura diferente do homem, depois do Roti Diena, ela conforme o clã e origem ela receberá a função de Manouch (que em romanes é nome de clã e quer dizer feiticeira), Puri Day (que em romanes quer dizer
Matriarca, sua palavra é chanceladora, principalmente na magia), Shuvani (que em romanes quer dizer Sacerdotisa, que trabalham na Ramasordé).

Elas podem ter descendência de qualquer linhagem de clã, será considerado pelo clã de origem. O Clã tanto de origem encarnada como espiritual será considerado, dado o nome a ser definido pelos espíritos. Todas terão a mesma atribuição, orientar as kalinatas, Ratóis e Melichs. Execer voto, direitos a palavra, a ramasordé, e a se casar sem autorização do Clã. Assim como ministrar o Roti Diena. O homem não passa por este estagio intemediario, ele é logo chancelado Barô. Por isso os ritos diferenciados e separados. Apenas em toda a estrutura encarnada, um clã dispensa estes ritos, que são os Kalons Latatchos, que são tidos nos clãs astrais, como prontos para o trabalho espiritual. Após 15 anos as Manouchs, Puri Day e Shuvanis, podem ser indicadas para ocupar o cargo de Bába.

A Bába que tem tanto poder quanto o Barô embora necessite da concordância dele para casos mais graves, tem poder de autorizar, mandar, esclarecer, definir e outras atribuições, somente sendo exclusa do Kris Romani, onde somente homens podem estar. Para os Gadjós: Desses cargos expostos a pessoa que fizer parte de uma tsara como médium, poderá após autorização astral, passar pelos ritos de preparo para o trabalho astral, embora possam exercer os cargos de Melichs, Kalinata / Ratói, Manouche / Puri Day / Shuvani, nunca serão chancelados Barôs e Bábas. Os espíritos que dirigem as tsaras é que tem estes títulos.

Algumas vezes as pessoas chamam os dirigentes, mas em virtude do carinho que se desenvolve em torno dessas pessoas não porque elas sejam de fato, a não ser que sejam ciganos de sangue, até porque não existe Barô e Bába que não sejam ciganos de sangue. O que pode ser alterado em casos específicos, devido as precisões, as idades podem ser diminuídas para os casos de necessidade extrema, se não tiver mais ninguém para ocupar. Porque a idade para nós é algo muito importante, já que com a vivencia se ganha maturidade. Os dirigentes independente do sexo serão chamados de Jutsi (que em romanes quer dizer “Soldado”).