Na entrada da Tsara, os Costumes da Rromhá. Antes de começar, a escrever sobre a cozinha cigana, é preciso ter um papo de comadre, adentrar dentro da Tsara, antes de chegar até a cozinha. É preciso conhecer os costumes da Rromhá. Para nós o ato de comer é sagrado e ritualístico. Os ciganos tem muitas normas, que deverão ser cumpridas, como não desperdiçar comida e comer de tudo. Aprendi com minha avó um ditado que sintetiza isto com muita verdade que é: "A comida preferida é a que esta na mesa". O desperdício não poderia também ser bem visto, por um povo que já passou tantas necessidades e fome. Este fator gera uma outra regra levada muito à sério pelos zíngaros, que é a ofensa da recusa. Se vamos à casa de um zíngaro, à sua Tsara, ao aconchego do seu fogo, não podemos / devemos recusar o que nos for oferecido para comer, pois estaremos cometendo grave ofensa. Ao partilhar o alimento estará ele lhe dando também uma grande prova de estima, consideração e amizade, por isto é tão grave. Salvo que a recusa se dê por causa de problemas de saúde, a mágoa do zíngaro custará a passar. Homens mesmo quando convidados, não deverão permanecer na cozinha, onde não é lugar de homem, salvo quando forem convidados das shuvanis, ou da dona da cozinha, mesmo assim não é de bom tom. Já que a cozinha do rom, é feita ao ar livre, ele sempre é o responsável pelos assados na brasa. Enquanto cozinhamos serviremos às mulheres de todas as idades e crianças, chás, vinhos e licores acompanhados de vários tipos de zulas e cariunchos. Só deverá permanecer no âmbito do fogo, as que forem realmente cozinhar, senão poderão fazer a roda do baile (um pequeno baile só de senhoras e crianças), as mulheres que não tiverem impedidas podem ficar à disposição para ajudar, fora da cozinha (no baile). E para os homens que permanecerem em sua cozinha própria (geralmente no fogo gaudério) serviremos bebidas fortes, como aguardentes, cervejas e conhacque, acompanhados de daneras, zujemias ou petiscos. As mulheres de corpo aberto (menstruadas), não deverão cozinhar, nem permanecer na cozinha, pois consideramos que neste período a mulher sofre uma baixa energética muito grande, e fica suscetível às energias que circulam no ambiente, cozinhando assim, desprotegida, ela tanto poderá passar energias conflituosas para comida, como também poderá em função da baixa de energia sentir-se mal (corpo mole, dores nos rins, cólicas, ect......). As grávidas também deverão estar fora do fogo da galétzo, porque a alquimia que circula nas horas de cocção dos alimentos, pode afetar o bebe, deixando-o inquieto, e causando desconforto na gestante, mesmo por que esta deve ser preservada sempre. As recém paridas (bató), também devem ficar fora, pelo lado prático do período de cansaço que ela esta passando. As cozinheiras devem estar alegres, cantando e imantando a comida. Se uma mulher faz um prato, aquele só deverá ser feito por ela. A panela deve ser mexida sempre no sentido horário e somente por uma pessoa. A preferência para se mexer as panelas (tradicionalmente de ferro) é sempre de colher de pau, por causa da energia benéfica que se desprende da madeira. Os doces e salgados de gade, abjov e pari d' tchaorrô, podem ser feitas em conjunto, desde que se for doce de enrolar seja separado e cada uma enrole a sua porção, e igualmente para os salgados de recheio, cada uma deve ter a sua massa e porção de recheio separado. Pessoas que acabaram de praticar a buena dicha, devem se banhar antes de entrar na galétzo, as djullis podem ficar para aprender a cozinhar. Pessoas com mal estar, zangadas, raivosas, tristes devem ficar longe da galétzo, para não contaminar os alimentos. A dona da cozinha deve ter a sua faca, que poderá ser somente utilizada por ela. O fumo deve estar longe da cozinha, para não atrapalhar o astral etérico dos alimentos. A ordem de servir os mimos (petiscos, zulas e bebidas) será sempre a mesma em qualquer ocasião: Primeiro as grávidas, idosos (as) e recém paridas. Depois juntos ao mesmo tempo, os homens, crianças e mulheres. Tudo isto que cito é de suma importância, os costumes da Rromhá são levados à sério, mesmo para os sedentarizados. Pois a comida que ingerimos, esta totalmente impregnada de energia e esta energia, deverá ser pura, pois se assim não for pode nos abrir uma porta para muitos males que poderão entrar em nossa aura das mais diversas formas. O ato de comer é sagrado. Nas refeições ou atos ritualísticos, como gade, abjov e pari d' tchaorrô, é com grande alegria que as ciganas, cozinham, cantando, dançando, rindo. Pois são acontecimentos que trazem felicidade para todo o Clã, para toda a comunidade cigana. A higiene do corpo e da alma, ao se manipular alimentos é imprescindível, e a magia que se faz com cada alimento, ao manipular poderá ser forte como qualquer magia que possa ser impregnada aos indivíduos. A ato de levar o alimento à boca por vontade própria constitui um grande ato mágico, por isso os alimentos devem estar preparados à altura desta hora quase que ritualística. Os alimentos tem um valor, que muitas pessoas não consideram, mas no entanto, levando-se em conta do modo que é preparado, que é imantado mesmo que não se dê conta disto, irá tudo ficar impregnada energeticamente em nós. Quando rimos, cantamos, brincamos, sentimos prazer no ato de cozinhar, a comida saí, além de muito mais gostosa, imantada, e pronta para que se faça a magia do comer bem.
Um comentário:
Ramonita...amei este papo de comadre, rsrsrsrs...lindo, maravilhoso o teu blog!!! pra mim, é um presente, ja que estamos um pouco distantes, e nao posso participar dos cursos.
Fiquei encantada com os costumes, que são os mesmos, nossos!!
Vc é sempre especial!
Um bjo..Luna gitana de Sara Kali.
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