Atitudes, que fazem a cabeça deitar em Paz!
Hoje ainda há pouco eu vinha do Centro, olhando distraída pela janela. Quando o ônibus parava no engarrafamento ali próximo a Central do Brasil, uma cena curiosa começou a se desenrolar bem diante de muitos olhos que acompanhavam ansiosos e curiosos como eu. Um morador de rua, um mendigo como se diz, varria a calçada da Central (um trecho), e apanhava o lixo com a sua gasta pá de plástico destas que a gente tem igual em casa. Ao término de varrer, ele foi até a lata de lixo (dessas de cor laranja, presa ao poste), e colocou com cuidado o lixo coletado. Nisto vinha um homem sorvendo os últimos goles de seu refrigerante e jogou a latinha no chão. Pois o dito “mendigo”, foi atrás dele, apanhou a latinha no chão e disse para este que jogou:
- Senhor, não faça mais isso! Lugar de lixo é no lixo. E além disso aqui é a minha casa, não deixarei ninguém sujar, o senhor deixaria eu entrar na sua e bagunçar tudo?
O transeunte parou, e disse:
O transeunte parou, e disse:
- Perdão amigo, foi mal, vacilei! (e sorriu).
Pronto, o mal estar estava desfeito. O morador de rua também sorriu, foi até o lixo e depositou a lata.
O ônibus andou e aquela cena que casou tantos comentários de todas as naturezas, me deixou a pensar. Que fazemos nós de nossas vidas? O simples homem deu-nos um ensinamento tão grande, que olhando a paisagem me lembrei de mais dois acontecimentos que vale comentar com vocês.
Nestes dias de chuva, que assolaram o Rio de Janeiro, eu havia visto outro morador de rua, no bairro de Vaz Lobo, em meio a água empossada que fazia correnteza, se lançando contra as pessoas, o morador segurava no colo um cão, e disse para mim, que também caminhava na água:
-Estou com medo de que ele venha a se resfriar, vou secar bem ele, e agasalhar. Ele é meu amigo, e amigo a gente fico junto em tudo.
-Verdade, cuide bem dele. (disse sorrindo, e fui andando até o meu destino dentro da água).
Aquilo me comoveu tanto neste dia, em que eu estava meio triste. Prova de Deus. Mas prova também da inteligência do homem, de que quem ama cuida, a gente que acessa a net, recebe milhões de e-mails comoventes dizendo isso, mas muitas das vezes a gente não faz (na maioria das vezes).
Esta semana recebi, um telefonema de pessoas que conhecem pessoas, o famoso amigo do amigo, de uma mulher que eu não conhecia, ela pedia consulta do mesmo baralho ensebado que tanto já falou, incentivando os crédulos (e a mim também) nele a levantarem os seus castelos ou mesmo irem embora.
A mulher marcou hora, dia e local para a consulta. Fui até ela e qual a minha surpresa em ver que era em uma casa simples da Rua Ceará (a atual Vila Mimosa no Rio de Janeiro – zona de prostituição), mas como pulsa um sangue quente de cigano nas minhas veias, eu fui. E nada tinha demais, era uma casa de três moças que ganham a vida vendendo “Amor”.
Fui muito bem recebida, recebida por pessoas que mesmo sem me conhecer, me receberam, como quem recebe a pessoa amada, com muito carinho. Elas eram pessoas de tristes histórias, mas carinhosas, risonhas, esperançosas, ingênuas. Depois das revelações pedidas, sentei-me para um café. E começamos a conversar as quatro, quatro mulheres de bagagem de vida, tão diferente, que causou riso, foi um momento tão descontraído, parecia uma festa entre velhas amigas de infância.
No meio da conversa, as visões do mundo foram sendo reveladas. E uma me disse:
-A gente tem que relevar muita coisa. Muitos dos nossos clientes tem muitos problemas. Um vem porque quer farra, as vezes uma farra ilusória, outros para dizer que conhece a vida, outros nem querem intimidade, só conversa. Outros contam tudo, nos fazem íntimas de suas famílias inteiras só de ouvir falar.
A gente dá carinho, conversa e corpo.
Fiquei a olhar dentro daqueles olhos morenos como os meus, e pensei que pareciam-se na cor, mas que paisagens diferentes haviam visto. E ainda assim sem fazer apologia, penso que são mulheres realmente especiais. Naquela dificuldade, mas sempre prestativas, dispostas, amigas, pessoas realmente especiais. Fiquei impressionada com a vontade de ser um ser humano melhor, de tentar ouvir, de tentar entender as pessoas, pessoas lindas elas eram. Fiquei a pensar. Quantos preconceitos não confessamos nem a nós mesmos? Quantas atitudes propagamos, mas não fazemos, quantas vezes deixamos de dar atenção ao amigo, ao semelhante, e principalmente para a família? De não tentar entender as pessoas? As vezes nos tornamos assassinos de nossos relacionamentos, não puxamos o gatilho, mas negamos palavras, amor, cuidados, não tentamos explicar, como fez o amigo morador de rua, porque não se deve jogar lixo na rua. Não cuidamos dos amigos que são caros, deixamos nos levar pela aparência.
Nunca temos tempo para nada. A grande mudança (creio eu) talvez esteja nas pequenas atitudes do dia a dia.
Assim dizemos, mas tenho a esperança que sei lá, talvez começando pelo bom dia ao motorista do ônibus, já seja um começo, para sermos pessoas melhores, seja um começo de fazermos a nossa parte.
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