Esta Segunda Carta, sintetiza, que o Amor do Ego, aquele do querer, um dia perde o sentido, fechando portas aos novos Amores vindouros.
Meu Amor,
Eu me vou, não pretendo voltar, te levo comigo, não te esquecerei jamais. Sombra e Luz, Claro e Escuro............. Sol e Lua, Mar e Montanha...........Assim somos nós, complementares.
Na verdade tenho descoberto que somos bem mais semelhantes do que parecemos ser, queremos as mesmas coisas, é claro que você tem muitas características que me fazem falta, e vice versa.
Somos em algum momento opostos, mas nossas semelhanças são tantas, que acabou por nos separar, e dói, dor que parece que nunca vai passar, já que não existe separação sem dor.
E doer dói sempre, existem dias que dói mais, só não dói depois de morto, porque a vida tem toda tem coisas que fazem doer. E dor de amor é difícil curar. Ruim também é quando fica dormente, e também tem dor que não se acalma. Com o tempo acredito que esta se apaga, aquilo que hoje mata, amanha estará esquecido. Não sei se é certo ou errado, talvez porque ache que o certo seria lembrar, então o feliz se apagar como o ruim, me parece injusto, porque o bom acontece menos e o ruim dez vezes mais. O verdadeiro seria que desbotasse o mau, o ruim e o bom ficasse nas suas cores vivas, chamando alegria.
Mas uma vez pensei que se tivesse um filho colocaria um nome bem alegre, o tempo passou e acho que meu tempo de mãe também, o filho hoje é só delírio, e amizade de irmã mais velha. Virou algo morto, que tiraram lá de dentro (a idéia), dói pensar nisto, uma hora não vai mais doer, ou pelo menos não vai doer tanto.
Felizmente existe o tempo, a gente pensa que vai ter raiva, no reviver dos momentos, mas é um erro pensar assim, a saudade é cor viva. E também a dor, a raiva, ate o ódio se gastam. Se gasta ate as coisas boas, vira lembrança que vem de vez em quando. Até filho que um dia desejei, hoje esta lá no passado perdido, tem dias que nem lembro disso.
Queria que tudo tivesse dado certo, o filho com a semelhança do jeito, a boca pequena, perna comprida, o escolher do nome............. aceito que já passou. Sei hoje que a gente se renova como todo mundo, e que tudo no mundo não se repete jamais. Pode parecer que é o mesmo, mas tudo são outros, as folhas das plantas, o latido dos cães, os passarinhos, as moscas, os limos das pedras, a gente encara a natureza como prova parcial da eternidade.
Só mesmo as pessoas morrem e vão embora e não voltam nunca mais, ou voltam, em novos sentimentos, ou se voltam, vem com um novo corpo. Porem ai nesses “se” e “ou”, é que esta o engano, nada volta mais, nem sequer as ondas do mar voltam, a água é outra em cada onda, a água da maré alta se embebe na areia onde se filtra, e a outra onda que vem é água nova, caídas das novas nuvens de chuva, as folhas do ano passado amarelaram, se esfarinharam, viraram terra, e estas folhas de hoje também são novas, feitas de uma seiva nova, chupada do chão molhado por chuvas novas. E os passarinhos são outros também, filhos e netos daqueles que faziam ninho e cantavam o ano passado, assim também os peixes, os ratos do quintal, os pintos, grilos e mosquitos.................. tudo.
Gente nova também vem no lugar das que não estão mais presentes, gente nova vem para o lugar de quem parte, mas a mania das pessoas é sempre achar que gente nova não tem o direito ao lugar dos que não mais estão, como se cada vivente não tivesse o direito de botar mais ninguém no nicho dele.
Penso no consolo, que Deus sabe o que faz, e vale mesmo para quando a gente se desespera (como foi o meu caso), por fim um dia chega a hora e a gente vai embora deixando para trás não se sabe quantos sentimentos em ebulição, pelo menos consola pensar que se faz falta também.
Algumas vezes tem dia (atracada no trabalho) que fico sem me lembrar...... mais teve horas que doeu mais que uma canivetada aberta. No fim a gente vai se acostumando com a ausência, mas ainda não gosto de dizer, de falar, senão choro, é dor demais, é melhor ficar quieta. Vem o rosto, a pele, o andar, o jeito, a voz mansa, em mim parece que estou toda marcada, tal qual um boi.
Teve dias em que eu quis tirar a pele que você tocou, mas na alma a gente não consegue mexer, então mudei de idéia.
Ainda penso que de alguma forma vou sempre te carregar comigo encravado pelos séculos, dou um suspiro e deixo o tempo cuidar de tudo. Sei que deixei magoas também, fico afoita para enterrar tudo, mas não esta no meu controle.
Quero que a pedra saia, e saia com ela o ciúme, as lembranças, o amor que aperta meu coração. Sei hoje que a pedra é de gelo e que ela irá derreter, restará a água, e um dia talvez a água também seque, queria que fosse logo, porque dói demais. No meu afã, de procurar respostas, encontrei, tenho já de posse algumas, que busquei onde não sei se devia ter pisado, coisas não de outras vidas, mais desta, que a memória bloqueou para minha própria sanidade, e me explicou por que agi assim, e porque sou fêmea deste jeito ou daquele, até mesmo porque não consigo mais me relacionar com ninguém, a trava do corpo é difícil curar, tudo por pensar que não fui suficiente.................... mas nada disso importa mais.
Esperarei até o fim dos meus dias, sei que és minha alma gêmea. Nesse momento necessito de ar, um dia a certeza dentro de meu peito diz que nos encontraremos, e quero estar pronta e ser tudo que não consegui ser agora. Seremos novas pessoas, só o amor é que continuará forte, modificado também, para melhor.
Amor para sempre.
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