Falar de iniciatica é tao dificil quanto por em pratica. Ate porque sao pactos astrais, que muitos fazem sem o estar totalmente conscientes da responsabilidade assumida com a espiritualidade superior. Entao revelar que os ciganos debaixo dos ceus fazem um processo iniciatico rigoroso, pode causar um espanto, mas, o que vos trago é informação pura do que acontece nas kumpanias.
As crianças que revelam dons mediunicos sao iniciadas a partir dos sete anos. Ainda que um cigano possa ser iniciado em qualquer epoca da vida, com qualquer idade. Hoje como nos primordios, os direcionamentos dos ritos sao os mesmos. O que muda é o fato de estar sendo revelado aos que nao sao da kumpania, mas que na sua ancestralidade trouxeram para dentro de suas casas (casa-corpo, casa templo), a essencia dos ciganos, amando-o e respeitando, com todo fervor, e por isso foi lhes dado conhecer, o que dentro da espiritualidade, fara muita diferença na vioda de cada um. É a primeira vez, que esta sendo revelado, uma vez que nós nao possuimos leis que nos obriguem a ser iniciado, ou mesmo livros codificadores.
Temos uma serie de principios basicos, aceitos por todos os ciganos salvo uma modificação ao outra conforme o cla. É essa aceitaçao, aliás, que torna possível a fraternidade universal e a sua condiçao de grande família no seio da Humanidade, sem que, no entanto, necessite existir um cargo politico religioso como um papa, que centralize uma Ordem, que ja nos é natural.
Nos naturalmente aceitamos, as condiçoes de melhoria, ate por estar no acompanhamento da evolução do planeta. Nao existe por exemplo uma sociedade politica, o que nos importa é o fator melhora da vivencia mediunica, dentro de uma sociedade gadje cada vez mais unida a nós.
Ate porque entre nós os conceitos de Fraternidade é muito forte, entre nós o fato de ser cigano, já é preponderante, para que nos aceitemos como familia, mesmo entre os rati (de sangue) para com os ciganos de alma. Por isso carinhosamente nos chamamos todos de primos. Um dos prinicpios da iniciação dos ciganos, é estar conectados com o astral superior o tempo todo e isso nos impoe uma postura terrena, que consiste em que estes que vem principalmente pelos laços do amor (apos analisados, muito analisados), serem reconhecidos como irmaos, e assim devemos trata-los no tocante ao prestar auxilio e proteção.
Somos um povo perante as leis espirituais do “nao proibir”, porem que cada um saiba o onus que tera com suas proprias açoes. Ate enato para nos o que une é o amor, e todos durante as iniciações sao “bebes que estao acordando”. E apos despertos serao todos ciganos aptos ao grau de liderança elevado a um Barô espiritual, isto justifica o fato de a iniciação ser tao longa (sete anos). Cada cla astral tem forma propria e metodos proprios de trabalho, embora as diretrizes dos trabalhos astrais sejam as mesmas em todos os clas. O que lhes cito aqui é em torno da iniciatica Kalon evoriana, o que abrange uma boa parte dos kalons ibericos, excluindo-se, o kalon Latacho, porque acreditamos que estes ja nascem iniciados na magia dos ciganos. Sao treze os ritos da iniciatica, e a existencia significa que eles devem ser aplicados na pratica, embora a obediencia seja o fator de maior importancia em toda a vida mediunica dos ciganos.
O nascimento da convenção dos ritos iniciaticos foram consolidados no passado, nos primordios e como nossa tradiçao é oral, nao temos documentos que atestem o ano, porque para nós ciganos, isso nao é importante. Mas acreditamos que tenham sido convencionados durante os terriveis anos da Santa inquisição, para que todos os iniciados em qualquer “passo” pudessem se livras das garras dos Tribunais do Santo Oficio. No que chamamos de “Khertia Drom” (o Papel do Caminho”, papel no sentido de missao), trabalhamos em torno de aprender os ensinamentos e nos qualificar para o trabalho astral, porque este tanto representa em muitos casos a subsistencia material dos ciganos, e tanto quanto seguir as regras, do trabalho para o qual foi preparado.
Os estudos de outras artes, como astrologia, magia elemental, magias dos cristais e velas, evocações serao complementares na magia de trabalho dos ciganos. Isso fez com que pudessemos evoluir e ate mesmo iniciar um começo de revelações nesta nova era. Afinal o ocultismo que faz parte naturalmente de nossas tradições deve ser partilhado tal qual como o pao. Sei que tal atitude ainda encontrará diversas reações, e muitos mesmo dirao que nao ha iniciatica nenhuma! Pero como me coloco a serviço dos espiritos, a eles me reporto, na intenção de fazer publico estes ensinamentos, para que cresça ainda mais o cla que trabalha na seara de Cristo. O que cada um vai fazer apos conhecimento, pertencerá a estrada de cada um.
Como creio no amor aos espiritos ciganos, sei que o direcionamento ha de vir, no trabalho do bem, creio nisso. E os ritos, as cerimonias, sao e tem carga simbolica dos laços que estamos fazendo, e isso marca profundamente (atraves de sensações) o espiritos de quem se submete a tais ritos. Existe uma linha de pensamento que aquele que se submete leva para a sua vida pessoal o mesmo padrao de comportamento de sua vida espiritual. Como diz a biblia: “Devemos preservar os misterios. A palavra, os sinais e as regras”. Sendo que acreditamos que o iniciado, sendo conhecedor da palavra (digo das palavras), da importancia do trabalho, e as regras, ele nao se desvirtuará do seu dever.
A Iniciatica em estado Real. A Khértia Drom desvendada e suas reações. Todos nós somos personalidades almas em busca do aperfeiçoamento, mas cada qual dentro do seu estágio de evolução ou de consciência mística. Neste aspecto ninguém pode dar o que não possui ou realizar coisas para as quais não está preparado. Esse ensinamento simples, mas seguro, onde os passos misteriosos simbolizam os diversos planos de evolução cósmica por que deve passar o ser humano e, mais especificamente, o iniciado, até atingir o grau da maestria.
Quando nós assistimos a uma iniciação uma pergunte sempre nos vem à mente: o que traz o neófito? A busca do conhecimento? Uma posição de status na sociedade? O aperfeiçoamento moral ou espiritual? A riqueza? Ou seria simplesmente a curiosidade?
Eu diria, sem medo de errar, que é esta última: a curiosidade. Para o inconseqüente essa curiosidade rasteira que leva as pessoas a invadir a vida privada de seus semelhantes, a conhecer os segredos dos outros para deles tirar algum proveito ou, quem sabe, apenas para deleitar-se com a descoberta hesitante de alguma coisa que parece envolta por uma cortina de mistério.
No primeiro grupo encontramos aquelas pessoas sem nenhuma vocação iniciática, que não conhecem e jamais virão a conhecer as questões tradicionais. Serão sempre curiosos, sem jamais viverem a grande aventura de descerrar o véu da realidade, que só alcança aquele que realmente busca. Ainda que galguem passos dentro de nossa inicatica, nada encontrarão em nossos rituais, ao contrário, sempre haverão de comentar que eles são superficiais e incompletos. E acabarão por se afastar, porque aqui nada encontrarão. Infelizmente, muitos deles, quando isto acontece, deixam para traz um rastro de discórdia e desarmonia.
No segundo grupo estão os Ciganos de Alma. E a verdade é, e sempre foi, buscada de diversas maneiras, pelos mais diferentes caminhos, de conformidade com o estágio de consciência de cada um. Portanto, para melhor equacionar o nosso raciocínio e dar um rumo compreensível ao trabalho que nos propusemos, ouso afirmar que sao varias pessoas que buscam a nossa cultura com razoes diversas.
“Os Trabalhadores” que são aqueles que ve, sua entrada em um cla astral como um meio, como a oportunidade de realização através da prática de trabalhos espirituais, que possuem o seu valor intrínseco, sem contestação, nem peso, pelo trabalho que lhe imposto. Pois nós Ciganos Rati (ciganos de sangue), nao menosprezamos quaisquer dos caminhos que possam direcionar o ser humano na busca do aperfeiçoamento moral e espiritual, na verdade nao podemos prescindir do trabalho desses operários da astralidade, tao necessarios para que nossa cultura espiritual, continue existindo.
Os “Estudadores” são aqueles que buscam o conhecimento, mas que não fazem dele o efetivo instrumento de sua evolução. Usam-no, na maioria das vezes, para alimentar e enriquecer sua capacidade de animar conversas de cunho esotérico ou exotérico, ou para pavonear-se de sua sabedoria contemplativa. São excelentes expositores das religioes em geral. Sabem discernir perfeitamente entre o certo e o errado na liturgia, criticando, muitas vezes até com arrogância e veemência, o ritualista de boa fé.
Os “Transformadores”, por sua vez, são aquela minoria de sinceros que assimilam, efetivamente, o saber iniciático e o colocam na prática de sua vida diária. Eles sabem, ainda que interiormente, que a escada pela qual ele ascende é formada de degraus de sofrimento e de dor, que só podem ser aplacados pela voz da virtude. O iniciado, ao iniciar sua jornada, deve deixar para traz todo vício e, só depois de lavar os pés nas águas da renúncia, da paciência e da tolerância é que ele poderá atravessar o grande abismo, e deverá fazê-lo sem macular um só degrau com pés lamacentos.
A iniciatica espiritual dos ciganos é semelhante a um enorme jardim. O “Trabalhador”, quando chega ali, encontra uma infinidade de flores, de todos os formatos, de todas as cores e de todos os perfumes. Cada uma delas encerra uma verdade, um conhecimento, uma lição de vida. O “Estudador” quando se vê nesse maravilhoso jardim, não tem outra reação que não a de se deixar embriagar pelo perfume narcótico das flores do conhecimento. Já o “Transformador” sente a imperiosa necessidade de colher essas flores, cada uma a seu tempo. Cabe aqui, porém, um alerta: No caule de cada flor do conhecimento está tambem os espinhos, da Lei da Reciprocidade. Ao colher a flor, colhemos também os espinhos e com eles a obrigação de repartir o Conhecimento com outros. E ai daquele que se deixar espetar, porque o conhecimento que não é repartido é um veneno que corre nas veias do Iniciado.
Povo Cigano e suas diretrizes.
Nosso povo canta e dança tanto na alegria como na tristeza, pois para nós a vida é uma festa e a natureza que nos rodeia, a mais bela e generosa anfitriã. Onde quer que estejamos, os Ciganos são logo reconhecidos por suas roupas e ornamentos, e principalmente por seus hábitos ruidosos. Somos um povo mágico, enérgico e passional. Somos peculiares dentro do nosso próprio código de ética; honra e justiça e senso no sentido e sentimento de liberdade que contagiam e incomodam qualquer sistema. Mas nossa comunidade ama e respeita a natureza, os idosos e todos os membros do grupo educam as crianças de todos, dentro dos princípios e normas próprios de uma tradição puramente oral, cujos ensinamentos são passados de pai pra filho ou de mestre para discípulo, através das estórias contadas e das músicas tocadas em torno das fogueiras acesas e das barracas coloridas sempre montadas ao ar livre (mesmo no fundo do quintal das ricas mansões dos ciganos mais abastados).
Para nós, a Lua Cheia é o maior elo de ligação com o "sagrado" quando são realizados os grandes festivais de consagração, imantação e outros festejos em geral. A celebrações da Lua Cheia, acontece em torno das fogueiras acesas, do vinho e das comidas, com danças e orações. Somos atentos observadores do Céu e verdadeiros adoradores dos astros e da magia elemental. Estamos sempre atentos para os ciclos naturais, através dos quais desenvolvemos poderes mágicos. Na culinária a alquimia é feita com amor e encanta quem se alimenta e nutre o espírito, são indispensáveis: o cravo, a canela, o louro, o manjericão, o gengibre, os frutos do mar, as frutas cítricas e as frutas secas, o vinho, o mel, as maçãs, as pêras, os damascos, as ameixas e as uvas que fazem parte inclusive dos segredos de uma cozinha deveras afrodisíaca. O punhal, o violino, o pandeiro, o leque, o xale, as medalhas e as fitas coloridas; a coruja, o cavalo, o cachorro e o lobo são símbolos sagrados para nós. A verbena, a sálvia (que deve ser cultivada sozinha, por que é muito ciumenta), o ópio, o sândalo e algumas resinas extraídas das cascas das árvores sagradas, são ingredientes indispensáveis na manufatura caseira de incensos, velas e sais de banho, mesclados com essências de aromas inebriantes e simplesmente usados no dia-a-dia, nos contatos sociais e comerciais, nos encontros amorosos e principalmente nos ritos iniciáticos, de uma forma sensível, conferindo grandes poderes. Nós vivemos de acordo com a natureza das coisas e os grandes barôs dizem: "A sabedoria é como uma flor, de onde a abelha faz o mel e a aranha faz o veneno, cada uma de acordo com a sua própria natureza". Todos acham que conhecem os ciganos. E de uma maneira geral são poucos os que não exprimem de uma forma categórica o seu conhecimento sobre nós. Existem mesmo "especialistas" que falam sobre as questões ciganas. Mas na verdade o que se tem são ideias que se foram construindo sobre os ciganos a partir do século XV e que se foram rapidamente cristalizando sob a forma de estereótipos. Nós somos pouco conhecidos. Na realidade o que se manifesta em relação a nós é um certo romantismo. A iniciatica da ancestralidade imaginada nos remete para a necessidade de questionar a nossa relação com a espiritualidade e a beleza dos espíritos ciganos. Somos um povo que possui rara beleza, exala sensualidade, transmite segurança para aquele que nos procuram; somos fortes e determinados quando assumimos um trabalho, não deixando nada para depois; somos médiuns de personalidade marcante, severa e disciplinadora, ao mesmo tempo em que somos ternos e doces. Muito dizem de sermos passionais, emocionais e por causa disso mesmo é que procuramos sempre auxiliar as pessoas de maneira inconfundível e decisiva. Auxiliamos também de maneira marcante as mulheres que recorrem a nós com problemas de fertilidade ou de ordem sexual. Damos grande valor ao conceito família. Já que pelo lado espiritual somos todos aparentados.